Considerações sobre o CONCÍLIO VATICANO II - Sem. Anderson Sousa

16/05/2013 09:42

 

Concílio Ecumênico do Vaticano II
 
“Trata-se de um extraordinário evento eclesial, nascido do coração de Deus, por meio de uma intuição de João XXIII [...] (Bento XVI)”. Esse acontecimento foi fundamental para a Igreja contemporânea, suscitando elementos fundamentais para a renovação da Igreja, com um novo modo de agir, mais voltado para o mundo e para suas necessidades. Também promoveu um diálogo com as culturas e com outras Igrejas, criando a consciência de que não é fugindo do mundo que se resolvem os problemas. E por fim, valorizou a centralidade da Escritura e da Liturgia na vida de fé, e a consciência de que a Igreja são todos os batizados. Todos nós formamos o Povo de Deus e somos templos do Espírito Santo.                                                                                                                     
Em 11 de outubro de 1962 iniciava-se o Concílio Vaticano II motivado pela seguinte razão: “A Igreja assiste a uma crise que aflige a sociedade humana”. João XXIII fez um convite á Igreja para discernir os sinais dos tempos, mantermos vigilantes e responsáveis, confiando em Cristo. O Concílio foi uma resposta da Igreja ao desejo de colaborar mais eficazmente na solução dos problemas de sua época. Vale destacar que o vigésimo primeiro Concílio, ou seja, o Concílio Vaticano I ocorreu em 1870, porém, sem grandes proporções.                                                                                                                        
Ao celebrarmos cinqüenta anos da sua realização é necessário revitalizarmos seu conteúdo, com o objetivo de mostrar sua riqueza e atualidade. E também suas constituições dogmáticas, decretos e declarações. Para ascender uma pequena luz no interior de cada cristão; especialmente nesse ano jubilar: o ano da fé.
 
Os documentos do Vaticano II são: quatro constituições: Sacrosanctum Concillium (sobre a liturgia); Lumen Gentium (sobre a Igreja); Dei Verbum (sobre a revelação divina e tradição) e Gaundium et spes (sobre pastoral e a Igreja no mundo). Nove Decretos: Ad Gentes (sobre atividade missionária); Apostolicam actuositatem (sobre os leigos); Christus Dominus (sobre os Bispos); Inter Mirifica (sobre a comunicação social); Optatum totius (sobre a formação sacerdotal); Orientalium ecclesiarum (sobre as Igrejas Orientais católicas); Perfectae caritatis (sobre a renovação da vida consagrada); Presbyterorum Ordinis (sobre a vidas dos presbíteros) e Unitatis redintegratios (sobre o Ecumenismo). E três Declarações: Dignitatis Humanae (sobre a liberdade religiosa); Gravissimum educationis (sobre a Educação cristã) e Nostra aetate (sobre a relação com os não cristãos).                                                          
 
                                                          
 
 
Referência: ZANON, Darlei. Para ler o Concílio Vaticano II. 1° Edição, Paulus. São Paulo, 2012.
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PARTE II

 
 
SACROSANCTUM CONCILIUM    

 

 

 

 

       A renovação e valorização da Liturgia
 
 
 
Esse foi o 1° Documento a ser aprovado pelos bispos. A renovação da liturgia era uma exigência unânime, frutos das transformações trazidas pelo movimento litúrgico iniciado no final do século XIX, que deu a liturgia um estatuto teológico e revelando toda sua riqueza. Ele foi fundamental para a promoção e o desenvolvimento da Liturgia, dando a ela a verdadeira importância e a centralidade na vida cristã. Pois, a Liturgia é a perfeita expressão do mistério de Cristo e da nossa união com Deus.                           
 A Sacrosanctum Concilium é dividida em sete capítulos. No primeiro sua fundamentação teológica. A liturgia é apresentada no horizonte da história da salvação, cujo fim é a redenção humana e a perfeita glorificação de Deus. Ela é o sacrifício memorial do mistério Pascal, renovação da Aliança. Ela é “simultaneamente a meta para a qual se caminham a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda sua força” SC, n° 10. No n°7 o documento afirma que “Cristo está presente na Igreja, especialmente na ação litúrgica. Está presente no sacrifício da Missa [...]. Está presente em seu dinamismo, nos sacramentos, de modo que quando alguém batiza, é o próprio Cristo quem batiza. Está presente na Palavra e por fim, está presente quando a Igreja canta e reza”.                                                                                                                                                        O capítulo II trata especificamente do mistério Eucarístico como memorial da morte e ressurreição de Cristo. A preocupação do Concílio era rever os ritos, tornando-os mais simples e significativos. A Homilia passou a ser mais valorizada, pois, “é a exposição dos mistérios da fé e das normas para a vida cristã” SC n° 52. As renovações são apontadas para os outros sacramentos são enfatizadas no capítulo III, principalmente a revisão dos rituais, realizadas nos anos seguintes.                       
O capítulo IV ocupa-se com o Ofício Divino, cuja maior mudança é o uso da língua vernácula. Essa foi uma das maiores transformações trazida pelo Concílio e aplicada a toda Liturgia. Esse tema é tratado nos números 36 e 54. Aqui também se diz “que a celebração comunitária é preferida à individual” SC n° 27, incentivando a presença e participação ativa dos fiéis.                                                                                               
 Uma vez aprovada a Sacrosanctum Concilium influenciou decisivamente toda a Igreja, no modo de pensar, de ensinar, de olhar para as instituições e para o mundo. Imprimiu-lhe uma nova dinâmica que continua viva e a convocar a Igreja a estar atenta à linguagem do seu tempo e lugar. Os n° 14 e 20 afirmam a necessidade de formar o clero. Temos ainda os capítulos V, VI e VII, que tratam respectivamente do Ano litúrgico (caminho através do qual a Igreja recorda e revive o mistério pascal de Cristo), a música e a arte sacra, que devem contribuir para a beleza e dignidade do culto.                             
O Concílio mostrou-nos que a Liturgia é o momento privilegiado de encontro com Deus, ensinou a valorizar e redescobrir o valor da Palavra e Eucaristia, e a importância da oração e do silêncio, da reflexão bíblica, da força que vem da eucaristia. Portanto, a Sacrosanctum Concilium promove uma melhor participação dos fiéis na celebração litúrgica. Além de se abrir para a língua vernácula, ela incentiva e destaca a perspectiva comunitária da liturgia.                      
 

  

    
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PARTE III

 
LUMEN GENTIUM   
 
 
Novo modo de ser Igreja   

 

 

         Ao convocar o Concílio João XXIII tinha o objetivo bem claro: aggiornamento, atualizar a Igreja diante da sociedade da época. A intenção era refletir sobra à essência da Igreja, esse seria um novo caminho a seguir. Luz para os Povos se tornou como que um tronco para o Concílio, e representa no campo da eclesiologia, uma autêntica revolução. Surge um novo modo de ser e de compreender a Igreja. De um modelo de Igreja como sociedade perfeita, passa-se agora a uma pluralidade de imagens, complementares entre si e orientadas pela perspectiva do mistério e da Trindade. 
            No capítulo I somos introduzidos no “mistério da Igreja”: ela é reino já presente em mistério e cresce pelo poder de Deus; é o povo congregado na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo LG n° 4. O corpo eclesial é considerado a partir do mistério trinitário. O segundo capítulo apresenta o desenvolvimento histórico da Igreja. O novo povo de Deus Uno e Universal, é formado por todos os que crêem. Na Nova Aliança todos são chamados a ir e batizar, segundo a ordem de Cristo (Mt 28, 18-20). Constituindo, assim uma Igreja missionária.
            Os capítulos III e IV descrevem a estrutura orgânica da Igreja. Todos os batizados, fiéis ou pastores, têm a mesma vocação fundamental e são associados à mesma missão. Primeiramente fala-se da constituição hierárquica da Igreja, especificando a função dos bispos (pregar o evangelho, governar e ensinar o rebanho). A seguir trata-se dos leigos, aos quais competem por vocação “procurar o reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus” LG n° 31. Os leigos são chamados a santidade a partir da sua vida de inserção no mundo. Por isso, a necessidade de se formar os leigos e incentivá-los na participação da vida eclesial.
            O Concílio pede que, entre pastores e fiéis haja uma “comunidade de relações”, e um mútuo apoio, pois todos são chamados a “santidade”. Esse é o tema dos capítulos V e VI. A missão essencial da Igreja é a santificação: A Igreja é santa e todos somos chamados a santidade. O Concílio assinala os conselhos evangélicos como dom divino, consagração ao serviço de Deus. No coração dessa vocação comum a todos, está a vida consagrada.   
 Nos dois últimos capítulos da Lumen Gentium, há a descrição do desenvolvimento escatológico da Igreja e o papel de Maria nessa caminhada, no mistério de Cristo e da Igreja. “A Igreja peregrina está em união com a Igreja celeste, e será consumada na Glória celeste” LG n°48. A realidade primeira é o “nós eclesial, em que a unidade precede a diferença” (M. Costa Santos). Esse é provavelmente o documento mais importante do Vaticano II, pois, fez a Igreja refletir sobre sua essência, origem e constituição interna. A sua redescoberta como ministério marca esse retorno as origens, e ao mesmo tempo abre-a as novidades dos novos tempos.
            A conscientização da Igreja como mistério ligado ao mistério de Cristo deu um novo rumo e apontou para novos caminhos. Mas muitas questões nem foram exploradas ainda. A Igreja deverá ser sempre mais “sinal da união com Deus e da unidade do gênero humano”.  Desta unidade a Igreja é testemunha, que torna presente (visível) o Ausente (invisível). 
 
 
Sem. Anderson 
3° ano de teologia.
 
 
 
 
 
 
Referência
ZANON, Darlei. Para ler o Concílio Vaticano II. 1° Edição, Paulus. São Paulo, 2012.
 
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PARTE IV

 

DEI VERBUM

A beleza e profundidade da Sagrada Escritura

 

     O objetivo é difundir a Palavra de Deus e dar o verdadeiro valor as Escrituras. Logo no proêmio destaca-se o objetivo de “propor a genuína doutrina sobre a Revelação Divina e sua transmissão, para que o mundo inteiro, ouvindo, acredite na mensagem da salvação, acreditando, espere e, esperando, ame” (DV n°1).

 

    O capítulo I é sobre a Revelação, que descreve o processo contínuo de comunicação entre Deus e o ser humano. Deus revelou-se aos antepassados, manifestou sua vontade e sua verdade diversas vezes ao longo da história, com o objetivo de conduzir todos à comunhão consigo. Na plenitude dos tempos, revelou-se em Jesus Cristo.

 

     O capítulo II ocupa-se com a transmissão da Revelação divina. Confirma que o acesso a revelação acontece através da pregação dos apóstolos e de seus sucessores. É a chamada “Tradição que se origina nos apóstolos e progride na Igreja sob inspiração do Espírito Santo” (DV n°8). A tradição ajuda a compreender a Escritura, pois ambas estão intimamente relacionadas. São dois pilares da fé cristã, provém de Deus e tendem ao mesmo fim: conduzir o ser humano a Deus. O documento confirma que a Bíblia foi escrita com mãos humanas, mas sob a inspiração do Espírito Santo. Para a interpretação da Bíblia é preciso levar em conta sua inspiração divina, os gêneros literários, a exegese e a hermenêutica.

 

    Os capítulos IV e V tratam do Antigo e Novo Testamento. O Primeiro Testamento contém um retrato da história da salvação e serviu para preparar o advento de Cristo, que veio instaurar o Reino, como é descrito no Novo Testamento.

 

      Por fim, no capítulo VI vemos como a Sagrada Escritura age na vida da Igreja. Aqui percebemos o convite ao aprofundamento a Palavra de Deus através da tradução da Bíblia para todas as línguas, além do estudo e da investigação. A Escritura deve ser a “alma da teologia” (DV n° 24).

 

    A Constituição Dei Verbum deu origem a muitos outros frutos, tais como a renovação bíblica no âmbito litúrgico, teológico e catequético; a leitura e aprofundamento através de estudos; a divulgação da lectio divina e a animação bíblica da Pastoral. Porém, existem ainda muitos cristãos distantes da Bíblia, ignorando seus ensinamentos. Muitos também fazem uma leitura fundamentalista ou superficial, induzindo ao erro. Em fim, muitos ainda não foram iluminados pela Palavra de Deus que é “Lâmpada para nossos pés” Salmo 119. O apelo do Concílio é fazer conhecer sempre mais e melhor a Palavra de Deus, e que encha “cada vez mais os corações dos homens o tesouro da Revelação, confiado a Igreja” (DV n° 26).

 

     O secretário geral do Sínodo dos Bispos de 2008 sobre “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” Nikola Eterovi, afirmou “que [...] a Palavra de Deus, nas suas varias manifestações, seja conhecida, ouvida, amada, aprofundada e vivida na Igreja, e assim se torne Palavra de Verdade e Amor para todos os homens”. Esse sínodo trabalhou a relação entre Revelação, Palavra de Deus e Igreja, numa clara referência e atualização da Dei Verbum. Oxalá ouvíssemos na nossa comunidade as palavras de Paulo aos Tessalonicenses “irmãos rezai por nós, a fim de que a palavra do Senhor se espalhe e seja bem recebida, como acontece entre vós” (II Tess 3,1).