Solenidade de Todos os Santos

01/11/2013 17:36

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

A celebração da Festa de Todos os Santos nos recorda os heróis da Igreja de Cristo, através dos tempos, a começar da santíssima Virgem Maria, dos Apóstolos e dos mártires dos primeiros séculos. Essa ininterrupta sucessão chega até os nossos dias, constituindo a maior glória da Igreja. As biografias dos santos são verdadeiras apologias da veracidade e da historicidade do fato cristão e, ao mesmo tempo, do ensinamento evangélico, que norteou suas vidas, até atingirem o cume da santidade.

A força do Evangelho tem sido capaz de converter sucessivas gerações, porque não se trata de um mero manual de filosofia ou de ética. A Palavra é o próprio Cristo, que se revela, e como que estabelece as balizas para o caminho da santidade, à qual somos destinados, como nos diz São Paulo: “Deus nos escolheu em Cristo, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos” (Ef 1,4).

Os santos são os grandes modelos de como seguir Jesus mais de perto, aplicando, dentro dos diversos tempos e contextos culturais, a prática de imitá-lo no dia-a-dia. A concretude do cotidiano manifesta-se nas coisas, por vezes, aparentemente simples, e, no entanto, heróicas e sublimes no seu conteúdo. Assim, plasmam-se esses paradigmas de espiritualidade, autênticas rotas traçadas sobre os passos de Jesus, tais como são apontados no próprio Evangelho.

Mas não basta olhar para um santo, dentro das circunstâncias de sua época, e com todos os obstáculos que ele enfrentou. É preciso perceber a força que o motivou a empreender esse caminho. Embora seu heroísmo possa parecer, freqüentemente, distante de nós, os santos são nossos irmãos na fé, na esperança e na caridade. Seguiram sempre o ensinamento de Cristo, especialmente, nas bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12). Estas formam o núcleo de uma vida plena e feliz, onde predominam os valores evangélicos. Por isso, podemos afirmar que o santo é desapegado de tudo que é terreno, ou apegado ao terreno, em vista do eterno.

Os santos sempre praticaram a misericórdia. Aí entra a importância do bom exemplo e, ao mesmo tempo, do auxílio oferecido pela mão fraterna. A nobreza de sentimentos e atitudes dos santos e santas se manifesta, também, na docilidade e na mansidão. Para isso, é necessária a força do Evangelho e da própria graça do Cristo Senhor, “Santo dos Santos”. Quem tenta chegar à santidade sem o Evangelho, não vai consegui-lo. É fundamental seguir os passos de Jesus: “Caminho, Verdade e Vida” (cf. Jo 14,6). A pessoa santa é sempre veraz, por mais que lhe custe afirmar a verdade, sobretudo numa época como a nossa, em que a mentira se tornou a norma do diálogo e da convivência, como que conatural.

Os santos e santas são também, e principalmente, pessoas de oração. A oração é o diálogo de amizade com Deus. É abrir a vida, como portas de par em par, para que Deus possa penetrar, fecundá-la com os autênticos valores, levando-a a florescer. A oração não é um dever; ela é um privilégio, que nos torna aptos a acolher o dom de Deus. Não parte de nós a iniciativa de rezar; ela tem sua origem em Deus, que nos toca e nos impulsiona para a verdadeira oração. A partir daí, formam-se os verdadeiros orantes, pessoas capazes de transformar os impulsos da oração em ações eficazes e perseverantes.

Estes são nossos mestres, porque seguem os passos do Divino Mestre. Conseqüentemente, frutificam nas virtudes e nos atos heróicos. É a maravilhosa Comunhão dos Santos. Precisamos, de fato, dessa nuvem de testemunhas (cf. Hb 12,1). São nossos exemplos, nossos animadores na busca da perfeição, como imitação de Cristo e resposta ao seu ensinamento de amor e de verdade. A eles pedimos a poderosa intercessão, para nossas necessidades e para toda a Igreja!

TEXTO: CARD. DOM EUSÉBIO OSCAR SCHEID

(Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro)